Os olhos de quarenta anos ainda não precisam de óculos, segundo meu oftalmologista, mas já não dão mais conta das letras miúdas na tela iluminada.

Comunicação. Escrita, mas cheia de ruídos. Quer seja pela vista cansada, que passa rapidamente pelas palavras reluzentes, por vezes perdendo trechos, contextos, significados. Ou pelo corretor automático, que altera o texto e, quando percebemos, já enviamos – e, aliás, desconfio até que já estejamos desenvolvendo a habilidade de decifrar essas mensagens, que à primeira vista não fariam sentido algum.

Mal-entendidos causados pela substituição de palavras – e todas as suas semânticas – por carinhas sorridentes, combinações de corações coloridos, foguinhos. Ou pela pontuação incorreta – a vírgula que escapuliu e levou com ela o significado pretendido. Silêncios desconfortáveis, mensagens não visualizadas, conversas que acabam na metade, de forma abrupta.

Já gostei muito de escrever e receber cartas – ou e-mails, em tempos menos remotos. Hoje entendo que uma “curtida” equivale a uma resposta digna para uma mensagem. Escolho não consumir alguma informação pelo excesso de caracteres por centímetro quadrado. Não ouço o áudio recebido porque me falta vontade e sobra cansaço. O eco dentro da bolha é repetitivo.

Nunca foi tão fácil comunicar, mas também nunca foi tão difícil se comunicar. Saudades de letras maiores, de opiniões abertas a considerações e, principalmente, do entendimento de que a escuta é parte fundamental de qualquer troca que almeje mudança do estado anterior, construção de uma conexão, ou qualquer coisa que o valha.

Ou talvez eu só esteja precisando migrar a leitura para o jornal impresso e trocar de oftalmo.