“Mas e aí, você não tem medo de sua profissão acabar?”, pergunta-me a pessoa do outro lado da tela. Respiro fundo e acabo optando por deixar mais essa conversa morrer. Desde que começou o burburinho sobre o Chat GPT para elaboração de textos, a pergunta que passou a me assombrar nos encontros sociais de toda sorte, até mesmo nos aplicativos de relacionamento, é “e agora, o que você vai fazer da vida?” – o interlocutor presumindo que estou prestes a ser substituída…por uma máquina.
Não é a primeira vez que me deparo com esse tipo de questionamento. Lá em 2009, quando o curso de Jornalismo deixou de ser obrigatório para o exercício da profissão, muita gente jurou que todos os jornalistas ficariam desempregados porque “qualquer um” poderia exercer o cargo. Como se “qualquer um” soubesse escrever com proficiência e tivesse as habilidades necessárias para redigir notícias ou qualquer outro tipo de texto.
Em 2017 a revista Exame publicou o artigo “Robôs irão roubar o meu emprego?”, baseado em dados extraídos do site “Will robots take my job?”. De acordo com o artigo, os principais empregos com alta probabilidade de serem automatizados até 2024 eram as atividades mais processuais, como de programação e atendimento ao cliente, por exemplo. “Jornalistas e desenvolvedores de aplicativos, por outro lado, estão seguros, de acordo com o banco de dados do site”, nos tranquilizava o artigo.
Corta para meados de 2023. Entrei no site e escrevi: “copywriter”. O resultado? Risco de automação iminente. Alerta de 100%. Só faltou tocar um alarme aqui na página do navegador e o notebook explodir. O que fazer agora? Correr para as colinas? E pensar que não muito tempo atrás achávamos que as áreas mais criativas estavam blindadas contra a substituição por IA. As humanas agora sendo ameaçadas por robôs. Daria um bom trocadilho ruim.
Os episódios da temporada mais recente de Black Mirror não parecem lá muito distantes da realidade, mas não sinto que minha carreira esteja ameaçada pela IA. Não ainda, ao menos. Talvez eu esteja sendo ingênua, mas faço parte do time de românticos que acredita que as emoções e percepções de nuances que só podem ser vivenciadas por seres humanos são essenciais para os processos criativos e artísticos. Assim como defende Robert Rose, diretor de estratégia do Content Advisory, entendo que a inteligência artificial pode melhorar processos em atividades de criação de conteúdo, mas não substituir redatores humanos em sua totalidade.
Creio que são nossas experiências individuais e referências pessoais e coletivas que tornam textos interessantes e envolventes. O Chat GPT sabe acrescentar piadinhas ruins mas oportunas no texto espontaneamente? Usa referências e citações da cultura pop para adicionar aquela pitada de sagacidade e bom humor ao texto sem a instrução específica de um humano para fazê-lo?
Em todo caso, se as previsões mais catastróficas estiverem corretas, me restará escolher e acolher uma nova profissão. Talvez algo que envolva contato com a terra e com a natureza – jardineira, quem sabe? E esperar que os robôs se cansem da vida corporativa e decidam “viver da arte” que são, agora, capazes de criar.
E enquanto isso, estou pensando em usar o Chat GPT para responder conversas de aplicativo de relacionamento, ver se elas evoluem pós perguntas apocalípticas sobre a profissão de redatora. Alguém aí já tentou?