Bug nas redes sociais, feriado prolongado. Tem muita gente procurando um jeito de dar uma pausa no uso das redes sociais. Tempo off para aproveitar a família, o cachorro e o céu. Diminuir o tempo diário de uso virou a meta individual… de todo o mundo!

As redes oferecem a opção de excluir as contas temporariamente. Quem faz esse sabático costuma voltar pouco tempo depois para contar – online – como foi a experiência. Há inclusive várias páginas de evangelistas dessa pauta, da moderação no uso das redes sociais em nome do bem-estar e de uma vida mais equilibrada.

Mas além de não ser a coisa mais fácil do mundo ficar offline, o sentimento de que deveríamos ser capazes de ter mais autocontrole pode gerar muita frustração.

 

#Detox 

“Ao colocar a responsabilidade pela manutenção da saúde mental em cada usuário individualmente, não promovemos uma busca por alternativas, nem responsabilizamos as plataformas”, afirma Ana Jorge, pesquisadora de mídia e comunicações da Nova Universidade de Lisboa.

De acordo com a pesquisadora, as pausas voluntárias são como “lubrificantes” essenciais ao funcionamento e rentabilidade das redes sociais, evitando que usuários desistam das plataformas permanentemente e debandem em massa. Os tais detox permitem que os indivíduos descansem temporariamente e se recuperem dos danos causados, para logo em seguida retornarem revigorados ao ciclo de criação de conteúdo e engajamento.

A disseminação da ideia de que cabe a cada usuário gerir o tempo de forma a usar as redes com moderação cria, inclusive, oportunidades para que algumas empresas capitalizem com a promoção e venda do offline como um estilo de vida, culpabilizando aqueles que não conseguem se afastar das plataformas nem mesmo por um curto período.

 

Força de vontade individual x regulamentação

No início de outubro, na mesma semana do bug das redes, veio à tona a denúncia de que as plataformas se utilizam deliberadamente de práticas prejudiciais à saúde mental, priorizando o lucro em detrimento do bem-estar dos usuários.

A notícia surpreendeu um total de zero pessoas. Não é de hoje que há documentários e estudos sobre como o fluxo contínuo de informações, ainda que irrelevantes, vicia. Tempo offline não é suco verde. Somos todos afetados pelas práticas das plataformas de redes sociais. Cobrar das empresas uma postura ética e regulamentar as práticas permitidas é urgente.