Estas pequenas coisas a serem resolvidas, que vão se acumulando pelos cantos; dentro da geladeira, nas prateleiras. A estante com os objetos dos cachorros, por exemplo. Seriam ratos, roendo as caixas de medicamento e deixando um pequenino rastro de fezes? Por que é que ninguém deu um jeito nisso, ainda? E as caixas por serem esvaziadas, as louças por serem organizadas de outra forma na cristaleira? As lâmpadas queimadas, as portas do guarda-roupas que não fecham. Puxadores e maçanetas que nunca são consertados. Problemas a serem resolvidos.
Não é como se não estivessem atrapalhando. Não é como se não causassem um incômodo crescente. A gente viveria melhor sem essas coisas, estragando na geladeira, embolorando naquele cesto em cima do armário – o que tem mesmo ali dentro? Seria bom voltar a usar as cadeiras eames no escritório, ao invés de deixa-las encostadas num canto. Os parafusos foram caindo, um a um. Desistimos de colocá-los de volta, não somos bons nessas coisas.
Bom mesmo seria pendurar nossos quadros na parede, colocar flores no vaso que poderia estar sobre a mesa, guardar nossos objetos no armário de uma maneira que fizesse sentido. Mas são tantas, as coisas! A vontade e o tempo num eterno desencontro. Vamos convivendo com essas pendências, que crescem e se multiplicam quando não estamos olhando, ocupando cada vez mais espaço, moldando nossos passos, pensamentos, emoções. Por que tanto esforço em evita-las, ao invés de olhar para elas com atenção, quando o simples fato de existirem causam tanta inquietude, tanta intranquilidade?
É de se perguntar, que outras coisas mais deixaremos acumular e perecer em uma gaveta qualquer?
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